Príncipe encantado ficou no fim da lista de prioridades das mulheres solteiras
Bridget Jones, de Renée Zellweger, se
virava bem até encontrar seu príncipe.
Uma já passou dos 30, bebe e fuma demais, sempre pensa em dieta, não suporta mais seu emprego sem graça, mora sozinha na metrópole e, ainda por cima, não se dá muito bem com a mãe. A outra ainda não apagou tantas velinhas assim, vive num pequeno sítio na fictícia Roseiral e tem seus passos controlados pelo irmão mais velho. Pode parecer que não, mas a Bridget Jones de Renée Zellweger e a caipiríssima Mirna de Fernanda Souza têm mais em comum do que sua relação não muito amistosa com os ponteiros da balança. As duas são loucas para arrumar um grande amor. Convenhamos que essa vontade não é só delas, mas o fato é que essas solteironas típicas estão vendo cair por terra esse estereótipo de não-vejo-a-hora-de-casar.
Batizadas de neo-solteiras, as não-casadas de hoje estão cada vez mais descoladas e menos preocupadas com o “foram felizes para sempre”. Estar solteira não é mais sinônimo de estar encalhada e a solidão deixa de ter apenas o lado negativo para provar que, às vezes, nossa melhor companhia somos nós mesmas. “Existem positividades em estar só. Solidão não é sinônimo de isolamento social”, disse a educadora Eliane Gonçalves, que recentemente defendeu a tese de doutorado “Vidas no singular: noções sobre ‘mulheres sós’ no Brasil contemporâneo”, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Sob a orientação da antropóloga Adriana Piscitelli, ela estudou, pesquisou e entrevistou 12 mulheres com idades entre 29 e 53 anos, sem filhos, morando sozinhas há mais de dois anos e parte delas mantendo relacionamentos amorosos. Ao final de cinco anos de trabalho, contesta a crença de que as mulheres estão sozinhas porque sobraram ou porque esperam a chegada de um princípe encantado num cavalo branco. “O único horizonte não é mais o casamento. Para elas, se acontecer, muito que bem. Se não, tudo bem também”, comentou. Finalmente, o conceito de que todas querem um par cai por terra.
Num primeiro momento, morar sozinha pode soar estranho, melancólico até. Só que ter um canto só seu tem suas vantagens. Eliane, que terminou a tese solteira, cita a liberdade de ir e vir, o fato de não dar satisfação a toda hora e a possibilidade de chegar em casa e encontrar tudo como deixou - mesmo que isso signifique uma bagunça sem tamanho - e selecionar suas visitas como alguns dos benefícios de não dividir o teto com ninguém. Sem falar na maravilha que é chegar em casa depois de um dia chatíssimo no trabalho e poder curtir seu som preferido ou o último lançamento da literatura norte-americana na maior paz.
“As mulheres, em geral, não querem voltar atrás. Não querem voltar no tempo e perder suas conquistas. Não querem um casamento desigual”, avaliou Eliane, que também é especialista em saúde pública e co-fundadora da ONG (Organização Não-governamental) Transas do Corpo, focada em ações educativas e pesquisas em gênero, saúde e sexualidade. Ou seja, nada de trabalhar fora o dia inteiro, chegar em casa no final da tarde e ainda ter que cozinhar, arrumar a casa e sair pelos corredores catando as roupas e sapatos que o marido deixou como rastro. Com essa onda, crescem o número de domicílios com apenas um morador - segundo Eliane, estima-se que o número de domicílios brasileiros nessa situação tenha subido de 9% para 11% nos últimos sete anos.
Nesse cenário todo de escolhas possíveis, o trabalho ocupa papel de destaque. Com a ascensão da mulher no meio profissional, muitas delas privilegiam a carreira, em detrimento da vida pessoal. Aos 37 anos, recém-completados, a arquiteta Daniele Rossi Lopes tem a profissão como prioridade. Morando com uma amiga e sem namorado ou rolo atualmente, disse que não se preocupa com o fato de estar solteira. Mas, sente falta? “Às vezes sim. Não por estar sozinha, mas no sentido de construir algo junto de alguém. Me considero romântica”, disse. “Não achei ninguém. Acontece naturalmente, não crio oportunidades, não vou atrás”. Enquanto o amor não vem, curte a vida em idas ao cinema, baladas e jantares com os amigos.
Encarar a solteirice com naturalidade e não ter o casamento como uma bandeira não é uma realidade apenas entre pessoas que, como Daniele, têm independência financeira e uma trajetória profissional encaminhada. Estudante do último semestre de Odontologia, Jaqueline dos Santos Ribeiro, 22, tem no topo da lista de objetivos terminar o curso na faculdade, conseguir emprego e especializar-se em alguma área que ainda não definiu. Quer organizar a vida primeiro antes de pensar em construir uma história a dois. Nesse meio tempo, como ela mesma disse, pode ser que conheça alguém especial. Se acontecer, beleza. Se não, não vai se crucificar por isso.
Batizadas de neo-solteiras, as não-casadas de hoje estão cada vez mais descoladas e menos preocupadas com o “foram felizes para sempre”. Estar solteira não é mais sinônimo de estar encalhada e a solidão deixa de ter apenas o lado negativo para provar que, às vezes, nossa melhor companhia somos nós mesmas. “Existem positividades em estar só. Solidão não é sinônimo de isolamento social”, disse a educadora Eliane Gonçalves, que recentemente defendeu a tese de doutorado “Vidas no singular: noções sobre ‘mulheres sós’ no Brasil contemporâneo”, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Sob a orientação da antropóloga Adriana Piscitelli, ela estudou, pesquisou e entrevistou 12 mulheres com idades entre 29 e 53 anos, sem filhos, morando sozinhas há mais de dois anos e parte delas mantendo relacionamentos amorosos. Ao final de cinco anos de trabalho, contesta a crença de que as mulheres estão sozinhas porque sobraram ou porque esperam a chegada de um princípe encantado num cavalo branco. “O único horizonte não é mais o casamento. Para elas, se acontecer, muito que bem. Se não, tudo bem também”, comentou. Finalmente, o conceito de que todas querem um par cai por terra.
Num primeiro momento, morar sozinha pode soar estranho, melancólico até. Só que ter um canto só seu tem suas vantagens. Eliane, que terminou a tese solteira, cita a liberdade de ir e vir, o fato de não dar satisfação a toda hora e a possibilidade de chegar em casa e encontrar tudo como deixou - mesmo que isso signifique uma bagunça sem tamanho - e selecionar suas visitas como alguns dos benefícios de não dividir o teto com ninguém. Sem falar na maravilha que é chegar em casa depois de um dia chatíssimo no trabalho e poder curtir seu som preferido ou o último lançamento da literatura norte-americana na maior paz.
“As mulheres, em geral, não querem voltar atrás. Não querem voltar no tempo e perder suas conquistas. Não querem um casamento desigual”, avaliou Eliane, que também é especialista em saúde pública e co-fundadora da ONG (Organização Não-governamental) Transas do Corpo, focada em ações educativas e pesquisas em gênero, saúde e sexualidade. Ou seja, nada de trabalhar fora o dia inteiro, chegar em casa no final da tarde e ainda ter que cozinhar, arrumar a casa e sair pelos corredores catando as roupas e sapatos que o marido deixou como rastro. Com essa onda, crescem o número de domicílios com apenas um morador - segundo Eliane, estima-se que o número de domicílios brasileiros nessa situação tenha subido de 9% para 11% nos últimos sete anos.
Nesse cenário todo de escolhas possíveis, o trabalho ocupa papel de destaque. Com a ascensão da mulher no meio profissional, muitas delas privilegiam a carreira, em detrimento da vida pessoal. Aos 37 anos, recém-completados, a arquiteta Daniele Rossi Lopes tem a profissão como prioridade. Morando com uma amiga e sem namorado ou rolo atualmente, disse que não se preocupa com o fato de estar solteira. Mas, sente falta? “Às vezes sim. Não por estar sozinha, mas no sentido de construir algo junto de alguém. Me considero romântica”, disse. “Não achei ninguém. Acontece naturalmente, não crio oportunidades, não vou atrás”. Enquanto o amor não vem, curte a vida em idas ao cinema, baladas e jantares com os amigos.
Encarar a solteirice com naturalidade e não ter o casamento como uma bandeira não é uma realidade apenas entre pessoas que, como Daniele, têm independência financeira e uma trajetória profissional encaminhada. Estudante do último semestre de Odontologia, Jaqueline dos Santos Ribeiro, 22, tem no topo da lista de objetivos terminar o curso na faculdade, conseguir emprego e especializar-se em alguma área que ainda não definiu. Quer organizar a vida primeiro antes de pensar em construir uma história a dois. Nesse meio tempo, como ela mesma disse, pode ser que conheça alguém especial. Se acontecer, beleza. Se não, não vai se crucificar por isso.
(Caderno TodaGente-Todo Dia)

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