sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Chico Buarque do Brasil
terça-feira, 19 de outubro de 2010
AS CORES E SEUS SIGNIFICADOS-Por Arq. Iberê M. Campos
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Nossa Senhora da Conceição Aparecida
Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida. Mãe de meu Deus, Rainha dos Anjos, Advogada dos pecadores, Refúgio e Consolação dos aflitos e atribulados, ó Virgem Santíssima; cheia de poder e bondade, lançai sobre nós um olhar favorável, para que sejamos socorridos em todas as necessidades.
Lembrai-vos, clementíssima Mãe Aparecida, que não se consta que de todos os que têm a vós recorrido, invocado vosso santíssimo nome e implorado vossa singular proteção, fosse por vós algum abandonado.
Animado com esta confiança a vós recorro: tomo-vos de hoje para sempre por minha mãe, minha protetora, minha consolação e guia, minha esperança e minha luz na hora da morte.
Assim pois, Senhora, livrai-me de tudo o que possa ofender-vos e a vosso Filho meu Redentor e Senhor Jesus Cristo. Virgem bendita, preservai este vosso indigno servo, esta casa e seus habitantes, da peste, fome, guerra, raios, tempestades e outros perigos e males que nos possam flagelar.
Soberana Senhora, dignai-vos dirigir-nos em todos os negócios espirituais e temporais; livrai-nos da tentação do demônio, para que, trilhando o caminho da virtude, pelos merecimentos da vossa puríssima Virgindade e do preciosíssimo Sangue de vosso Filho, vos possamos ver, amar e gozar na eterna glória, por todos os séculos dos séculos.
Assim seja!
Amém.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
QUASE SÓ PARA ELAS
Há uma cena crucial em Comer Rezar Amar (Eat Pray Love, Estados Unidos, 2010), assim mesmo, sem vírgulas, de Ryan Murphy, que estreia hoje em Ribeirão Preto, quando a personagem central Liz (Julia Roberts) tem o momento decisivo da sua vida (e do filme): depois de comer e rezar bastante, ela encontra um grande amor —para completar a tríade de verbos do título—, mas recusa a se entregar a ele porque não quer perder o equilíbrio conquistado. Mas, afinal, por que rezar tanto, falar tanto em amor, buscar insistentemente o homem da sua vida se, quando está prestes a conquistá-lo, não tem coragem de encarar o novo desafio? De que valeu tamanho esforço se não é para desfrutar do resultado positivo dele?
Estamos pensando em termos práticos porque a personagem baseada no best-seller autobiográfico de Elizabeth Gilbert passa duas horas e vinte minutos em busca do "homem perfeito". Ela não se contenta que eles sejam bonitos (qualquer mulher ficaria feliz ao lado de Billy Crudup e James Franco) e escapa como se deles viessem todos os males da protagonista. E se os homens não trazem felicidade, que tal se encharcar da calórica comida italiana e ficar gorda a ponto de sofrer na hora de colocar uma calça nova? Ou se despencar para a Índia, passar privações como esfregar o chão, ficar em silêncio, meditar, rezar muito, enfim, viver uma vida de tribulações?
Simples: Liz é uma mulher cheia de culpas (e de dinheiro, para poder passar um ano viajando pelo mundo) e, antes de se entregar ao "verdadeiro amor" terá de passar por todas as dificuldades do mundo, como não se importar em comer demais e ficar feiosa ou tornar-se pouco desejável com aqueles vestidinhos de chita e cabelos descuidados enquanto limpa o chão de um mosteiro —perfeita caricatura de riponga.
Bem, só depois de passar por tantos sofrimentos (ainda que comer seja uma bênção, mas engorda o que para a mulher pode ser um grande drama) é que ela estará pronta para amar. E, mesmo assim, recusa porque pode perder o equilíbrio alcançado com tanta meditação. Contradições femininas? Ou o clima desejado para prender a atenção do espectador e leitor (no caso do livro)?
Comer Rezar Amar traz uma Julia Roberts pouco inspirada. Na verdade, a atriz é bem limitada, com duas ou três expressões que definem quase tudo, mas é capaz, por exemplo, de criar intensidade e simpatia suficientes num personagem como o da fotógrafa Anna, em Closer - Perto Demais (Mike Nichols, 2004).
No novo filme, ela é a Julia Roberts de quase sempre. Atua no automático, com cara de paisagem na maior parte do tempo e muito esforço na hora de sofrer. Ela só consegue ser simpática quando se solta e dá gargalhadas como alguém que se sente à vontade no papel. Quem se destaca mesmo como intérprete é o ótimo Richard Jenkins.
Fora isso, o filme carrega as tintas nos clichês dos respectivos países por onde a personagem passa. Os italianos, por exemplo, odiaram a forma como são mostrados: falam alto, comem muito, são dominados pelas mães e passam o dia infernizando a vida de mocinhas turistas, ao som de músicas mais que batidas.
Na Índia e em Bali as coisas não são muito diferentes: gente rezando, vacas na rua, trânsito insuportável, danças, sujeira e gurus ensinando a melhor maneira de se viver. Do Brasil, a coisa tampouco fica atrás. O personagem do espanhol Javier Bardem é o brasileiro Felipe, que insiste em beijar a boca do filho. Este reclama dizendo que os brasileiros são assim. E Javier, na pele de um brasileiro, é completamente ridículo. Fala com sotaque risível e tenta encarnar um amante latino típico que ouve bossa nova de João e Bebel Gilberto —pelo menos este clichê não fere tanto o que se conhece de melhor no Exterior a respeito do País.
Não será ofensivo dizer que Comer Rezar Amar é um filme direcionado totalmente para o público feminino, assim como fitas de guerra interessa mais ao masculino e desenho animado seduz crianças. Ressalvado o estereótipo e o conteúdo possivelmente pejorativo, talvez só as mulheres (e nem todas) curtam de fato esta história de descobrimento pessoal.
O NÚMERO
8,5 Milhões de livros vendeu Elizabeth Gilbert, com seu romance autobiográfico Comer Rezar Amar.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
O "ficar" pode ser uma indicação de dificuldade em lidar com rejeição

Muitos jovens são adeptos do “ficar” e, claro, jamais assumem relações sérias. Mas a busca desmedida dos prazeres imediatos, é preciso destacar, pode camuflar tanto insegurança quanto medos e conflitos internos mal resolvidos. O preço que pagam por esse comportamento impetuoso é que fazem escolhas afetivas erradas e vivem relacionamentos superficiais e insatisfatórios.
Os solteiros em geral parecem estar alérgicos às frustrações e tristezas e não percebem a importância dessas emoções para refinar a personalidade. Assim, insistem em fugir desse desafio e se habituam a viver relações superficiais. O resultado é uma busca desenfreada da satisfação imediata a qualquer preço.
Resta perguntar: o que sobra em termos de afeto do que eles chamam "ficar"? Nada. São dois corpos e nenhuma intimidade. Relação afetiva saudável pressupõe enxergar, sentir, ouvir e processar o mundo interior do outro. Viver relações superficiais é uma armadilha e uma pseudofelicidade. Passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os "ficantes" alugam os ouvidos de um amigo e reclamam de solidão, do descaso e da rejeição. Outros até têm uma pessoa fixa com quem se relacionam, mas parecem viciados em enxergar só o lado negativo do namoro estável.
Para esses, a relação afetiva é igual a um bolo. Só querem comer o recheio, ou seja, a parte boa, mas se esquecem dos outros ingredientes essenciais. Antes de assar havia farinha seca, ovo cru e gordura pura. Somente após passar pelo árduo calor do fogo, o bolo está pronto para ser consumido. O difícil é aceitar que nem a vida nem os bolos têm só os ingredientes preferidos. E isso não torna o caminho menos divertido, e sim mais desafiador.
Enquanto a pessoa viver a vida como se tudo fosse descartável, irá desconhecer o prazer de dormir abraçadinho e roçar os pés sob as cobertas. Em outras palavras, a troca de cumplicidade, o cafuné e o carinho. E assim perde a chance de descobrir o significado do amor.
Ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver os sentimentos. Implica arriscar-se, pagar para ver e correr atrás da felicidade. Doar e receber. É compartilhar momentos de alegria e tirar proveito até das coisas ruins.
É claro que isso tudo demanda esforço. Para amar e ser amado é necessário o reconhecimento das diferenças, pois aquele que lidar melhor com as imperfeições do outro é o que sabe administrar as próprias limitações.
Não vale a pena procurar o amor em qualquer lugar ou pessoa. Isso não é compensador. Não adianta esconder-se atrás dos medos, pois nem sempre amar significa sofrer. Envolver-se com alguém implica a capacidade e a disposição de correr o risco de se lançar ao encontro do outro e desvendar a mais bela singularidade, como diz Roberto Carlos (69) na canção Emoções: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!"
Karine Rizzardi, psicóloga em Cascavel (PR) especialista em casais, família e em aconselhamento familiar, fez pós-graduação em Psicologia na Chicago University, em Chicago, nos Estados Unidos, e é membro da Associação Brasileira de Terapia Familiar (Abratef). E-mail: drakarinerizzardi@gmail.com
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
A todos que não foram e não ligaram-Fernanda Young
Machado de Assis e o Xadrez
“De Machado de Assis conhecemos parte
de sua vida
mas eu quero lhes dizer um pouco mais da
sua lida.
Além de poeta, romancista e contista
ele era teatrólogo, jornalista e enxadrista.” (ProfessorNelsonMS)
O segundo post da série Xadrez e Leituras da Vida apresenta a relação de Machado de Assis com o Xadrez. Este grande escritor brasileiro que nos deixou importantes composições escritas, também nos deixou suas composições para os tabuleiros de xadrez. Foi um jogador de xadrez e participou do primeiro torneio de xadrez realizado no Brasil. Mantinha contato com enxadristas e instituições afins. Jogou com grandes enxadristas da época como Artur Napoleão e João Caldas Vianna . Atuou, também, como problemista criando alguns problemas de xadrez.
Pesquisas mostram que a relação entre Machado de Assis e o jogo de xadrez se deu num intervalo de tempo de aproximadamente 36 anos (1862/1865 até 1898). Se essa relação não tivesse sido benéfica para Machado de Assis e para o xadrez, ela não teria durado tanto tempo !
A seguir são apresentadas citações que mostram Machado de Assis como enxadrista e a presença do xadrez em sua obra.
O nome de Machado de Assis recebe algumas citações relacionando-o ao xadrez :
“...Tinha aí duas distrações: a música erudita e o jogo de xadrez... “ (Machado : atual, imortal e eterno, Murilo Melo Filho - Sexto ocupante da Cadeira nº 20 na Academia Brasileira de Letras)
“Uma abertura machadiana | Aqui, jogaremos xadrez. A abertura fora do comum se justifica: os movimentos iniciais determinam o curso de uma partida e por isso na teoria enxadrística são objetos de intensa investigação. Aqui, também seremos investigadores. Uma importante característica da personalidade de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) ainda é pouco conhecida (porque pouco estudada): o inesgotável escritor, criador de alguns dos maiores clássicos de nossa literatura, foi um grande e dedicado enxadrista, habilidade peculiar que pode ter exercido uma enorme influência sobre o artista." C.S.Soares
“...Como o poeta romântico francês Alfred de Musset, Machado de Assis foi problemista e publicou vários de seus enigmas de xadrez em periódicos nas décadas de 1870 e 1880...” C.S.Soares
“Machado é citado como solucionista de problemas de xadrez em diversos números da revista Ilustração Brasileira e da Revista Musical e de Belas-Artes.” C.S.Soares
“Machado de Assis foi o primeiro solucionista da primeira secção de xadrez do Brasil ! Um problema de sua autoria foi publicado (sob o no. 10) na Illustração Brasileira e reproduzido, mais tarde, na Caissana, pág. 11. (Manual de Xadrez, Idel Becker)
DOYLE, Plínio. Machado de Assis, jogador de xadrez. In: Boletim da Sociedade dos Amigos de Machado de Assis. Rio de Janeiro, n. 1, pp. 22-23, setembro 1958.
MATHIAS, Herculano Gomes. Machado de Assis e o jogo de xadrez. In: Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, Vol XIII, pp. 143-185, 1964.
Nas obras de Machado de Assis encontramos referências ao jogo de xadrez, eis algumas delas:
“Aos domingos, tinha sempre a jantar o Sr. Antunes, com quem jogava uma partida de bilhar. Tentou ensinar-lhe o xadrez, mas desanimou ao fim de cinco lições ... Das qualidades necessárias ao xadrez, Iaiá possuía as duas essenciais: olho de guia e paciência beneditina; qualidades preciosas na vida, que também é um xadrez, com seus problemas e partidas, uma ganhas, outras perdidas, outras nulas. “ (Iaiá Garcia, Machado de Assis)
“Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trabalhos. Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo. Talvez conviesse pôr aqui, de quando em quando, como nas publicações do jogo, um diagrama das posições belas ou difíceis. Não havendo tabuleiro, é um grande auxílio este processo para acompanhar os lances, mas também pode ser que tenhas visão bastante para reproduzir na memória as situações diversas.” (Esaú e Jacó, Machado de Assis)
"Quando Eduardo declarou aceitar a partida de xadrez a moça sentiu que o coração lhe palpitava com mais força. Ela própria foi dispor o necessário para o jogo, não sem levantar muitas vezes os olhos para Eduardo, cujo olhar, pregado nela, exercia uma fascinação ... Mandou entrar e daí a pouco o valente jogador de xadrez aparecia à porta, com ar risonho e gesto afetuoso.” (Questão de Vaidade – conto, Machado de Assis)
"O major jogava o xadrez com Valadares; o poeta recitava versos; Elisa enchia tudo com a sua graça e as suas palavras." (História de uma Lágrima – conto, Machado de Assis) | Boa “leitura” e bom “jogo” !
Veja o que já foi publicado em Fatos e Ângulos - Blog Info sobre: Xadrez e Leituras da Vida | Xadrez
Fonte: ProfessorNelsonMS | http://fatoseangulosbloginfo.blogspot.com/
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Festa no outro apartamento-Martha Medeiros
Anos atrás a cantora Marina compôs com o irmão dela, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: "eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento". Passei minha adolescência inteira com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar, porém eu não havia sido convidada.
Até aí, nada de novo. Não há um único ser humano que já não tenha se sentido deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. O problema está em como a gente reage a isso. A grande maioria que espera "acontecimentos" fica ligada demais na festa do vizinho, se perguntando: como fazer para ser percebido? A resposta deveria ser: percebendo-se a si mesmo. Mas é o contrário que acontece: a gente passa a se vestir como todo mundo, falar como todo mundo, pensar como todo mundo. Só então consegue passe livre: ok, agora você é um dos nossos, a casa é sua.
As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação tão infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias de jornal. As pessoas alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.
É preciso amadurecer para descobrir que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro não costumam ser revelados. Pra consumo externo, todos são belos, lúcidos, íntegros, perfeitos. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada/todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa sacando que nada é o que parece ser.
Sua solidão, sua busca por paz interior, seus poucos e leais amigos, seus livros, suas músicas, fantasias, de desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na sua biografia, e pode ser mais divertido que uma balada em algum lugar distante. Pegar carona na alegria dos outros é preguiça, e quase sempre é furada. Quer festa? Promova-a dentro do seu apartamento.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Ele não está tão afim de você...
Quanto tempo você leva pra ligar, enviar um e-mail ou SMS só pra dizer "e aí, tudo bem? nossa, tô trabalhando demais/ tô estudando demais/ minha mãe está aqui em casa/ tenho campeonato esse fim de semana/ O celular não pega lá/não vou levar o notebook/tenho palestras no fim de semana...
Então é assim que funciona. Ele não tá a fim de você. Mesmo.
Das poucas vezes em que quis que ficasse claro e reiniciei o contato depois de um sumiço, a única coisa que ganhei foi...Não posso falar com você agora te ligo mais tarde...e sumiu...rs.
E sempre quando eu ligo ele me diz...uai você sumiu...só eu??
Tenho saudades quando agente se falava todo dia.
E olha que não havia acesso a tanta tecnologia.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Transformando um pé na bunda em arte - por Vanessa Souza

Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminou com as seguintes palavras: “cuide de você”.
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão, para interpretar a carta.
Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.
Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim.
São com essas palavras que a artista plástica e escritora francesa Sophie Calle justifica sua exposição “Cuide de você”. Após levar um fora por e-mail do também escritor – e sedutor – Grégoire Bouillier, não sabendo ser aquele um adeus definitivo, ou se haveria ainda uma porta aberta, e não tendo coragem de responder a mensagem, ela decidiu, três dias depois, mostrar a carta-rompimento para 104 mulheres das mais diferentes profissões para interpretar o texto — psicanalista, juíza, escritora, jornalista, atriz, cantora, consultora de etiqueta, delegada, jogadora de xadrez…
O resultado incrível desse projeto esteve no SESC Pompéia, em São Paulo, e de 22 de setembro a 22 de novembro estará no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. (O e-mail de Grégoire está reproduzido ao final deste post.)
“Se ele tivesse voltado, eu teria preferido Grégoire”, disse Sophie na FLIP 209. Mas ele não voltou. E a exposição está fazendo o maior sucesso. Ainda na FLIP, Grégoire, no primeiro encontro oficial com Sophie, lembrou aos literatos que não é proibido deixar alguém, e que todos têm o direito de amar e deixar de amar. Tudo bem, Grégoire, você teve todo o direito, ok?
Em junho deste ano, o escritor explicou à revista Marie Claire que a fidelidade exigida por Sophie deveria ser algo oferecida de livre e espontânea vontade. Não pode ser pedida, nem exigida. “Tem que partir de você, não do outro. No meu caso, ela se tornou um fardo quando passou a ser uma obrigação que a Sophie impunha, não uma vontade natural”, explicou. No final da entrevista, ele alfinetou a ex. “Gostei muito de Sophie, mas, na verdade, tive outros relacionamentos que foram até mais importantes na minha vida”.
Voltemos à exposição. Algumas das interpretações se destacam. A subeditora-chefe, Sabrina Champenois, escreveu: “O inferno, sem os outros. Amante rompe e afirma que motivo é respeito pelo pacto inicial. Honestidade ou covardia?”
A juíza X., que não quis se identificar, pergunta-se: “O que é um contrato? É um acordo voluntário entre duas pessoas, cujo consentimento deve ser livre e ciente, para criar certa situação e organizar de forma precisa as regras segundo as quais funciona”.
Françoise Gorog, psiquiatra, usa um lacanês só compreensível para psicanalistas (ao lado). A escritora de cartas Rafaèle Decarpigny é enfática: “(…) Eu poderia expressar incompreensão, tristeza, raiva. Poderia lhe dizer que apenas o fato de responder essa mensagem seria demonstrar interesse demais. Poderia lhe dizer que poderia ter preferido uma ‘boa conversa aberta’ (?) a essa prolixidade na qual você mergulha, como que para esconder a sua evasão e as ‘razões’ para ela”.A Condessa Aliette Eischer Von Toggenburg (ao lado), consultora de etiqueta e protocolo, desdenha o e-mail, do início ao fim. Quando Grégoire escreve que gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente, ela dispara: “Sim, claro, culpe a sua mãe, o padre, o presidente, a Madonna, ter lido Don Juan, os tumultos na periferia e sei lá mais o quê”.
Para concluir, a interpretação da criminologista Michèle Agrapart-Delmas. Para ela, o autor do e-mail é incapaz de lidar com seus conflitos, sua escrita é evasiva, e ele quer projetar a imagem de uma pessoa bondosa que não sabe repelir. É somente a angústia, pela qual ele não pode ser responsabilizado, que o leva a escrever essa pequena obra de manipulação e dominação, além do autor ser orgulhoso, narcisista e egoísta. “Não há dúvidas de que a mulher para quem ele escreve o lisonjeava, mas ele não dá a mínima para seu sofrimento, para a frustração produzida pela dor que ele causa”.
São muitas as outras leituras do e-mail, outras tão instigantes quanto às citadas aqui. Vale muito conferir a exposição. Dói um pouco, também. Você já levou um fora por e-mail? Sim? Então faça como a Sophie e sublime. Sublime bem. É a melhor saída. Ah! Sophie disse que a exposição foi uma maneira de ganhar tempo antes de romper com Grégoire. Ela não havia entendido que, embora unilateral, o rompimento já havia ocorrido?
—–
O e-mail em que Grégoire Bouillier rompe com Sophie Calle
Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer de viva voz. No entanto, vou fazê-lo por escrito.
Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a “quarta”. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as “outras”, não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.
Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e “generoso”. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as “outras”. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.
Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.
Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.
Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.
Cuide-se.
Grégoire
crédito das fotos: a primeira é do site da Flip.as outras duas são de Vanessa Souza, a partir
das peças expostas em São Paulo








